quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Senhor Extraterrestre

Estava a ouvir a Rádio Sim, depois de ter deixado a Luisinha no infantário, quando o meu amigo José Manuel Monteiro (que apresenta o "meu" Lusofonias) e a Inês Carneiro nos brindam com esta canção fantástica que eu desconhecia:
Aproveitei um sinal vermelho para mandar um sms ao Zé: "É excelente! Parece uma música do Herman..." Respondeu-me: "Sabes porque parece do Herman? Porque foi escrita pelo Carlos Paião!" Esse génio letrista, que além de escrever as suas músicas (há muito para conhecer, além da "Cinderela" e do "Pó de Arroz"), escreveu para o Herman (todas as do Serafim Saudade, a "Canção do Beijinho" e o "Bamos Lá, Cambada!") e para muitos outros. Até para a Amália!
E viva a Sim, que não sofre da ditadura das playlists e está sempre a brindar-nos com estas pérolas que enriquecem a nossa cultura!

Aqui fica a letra:

Vou contar-vos um história 
que não me sai da memória,
foi pra mim uma vitória 
nesta era espacial.
Noutro dia estremeci 
quando abri a porta e vi 
um grandessíssimo OVNI 
pousado no meu quintal.

Fui logo bater a porta, 
veio uma figura torta, 
eu disse: "Se não se importa 
poderia ir-se embora.
Tenho esta roupa a secar 
e ainda se vai sujar 
se essa coisa aí ficar 
a deitar fumo p'ra fora."

E o senhor extraterrestre
viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse "pi", 
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho 
e pôde contar-me, então, 
que tinha sido multado 
por o terem apanhado
sem carta de condução.

"Ó senhor, desculpe lá, 
não quero passar por má, 
pois você aonde está 
não me adianta nem me atrasa. 
O pior é a vizinha 
que parece que adivinha 
quando vir que eu estou sozinha
com um estranho em minha casa.

Mas já que está aí de pé 
venha tomar um café, 
faz-me pena, pois você 
nem tem cara de ser mau. 
E eu queria saber também 
se na terra donde vem 
não conhece lá ninguém 
que me arranje bacalhau."

E o senhor extraterrestre 
viu-se um pouco atrapalhado. 
Quis falar mas disse "pi", 
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho, 
disse para me pôr a pau, 
pois na terra donde vinha 
nem há cheiro de sardinha 
quanto mais de bacalhau.

"Conte agora novidades:
É casado? Tem saudades?
Já tem filhos? De que idades?
Só um? A quem é que sai?
Tem retratos, com certeza. 
Mostre lá, ai que riqueza! 
Não é mesmo uma beleza? 
Tão verdinho! Sai ao pai.

Já está de chaves na mão?
Vai voltar pro avião?
Espere, que já ali estão 
umas sandes p'rá viagem. 
E vista também aquela 
camisinha de flanela 
p'ra quando abrir a janela 
não se constipar co'a aragem."

E o senhor extraterrestre 
viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse "pi", 
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho
e pôde-me então dizer 
que quer que eu vá visitá-lo, 
que acha graça quando eu falo 
ou ao menos p'ra escrever.

E o senhor extraterrestre 
viu-se um pouco atrapalhado, 
quis falar mas disse "pi", 
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho
só pra dizer: "Deus lhe pague."
Eu dei-lhe um copo de vinho
e lá foi no seu caminho
que era um pouco em ziguezague.

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