sábado, 21 de março de 2015

Los Amados rock!

O João foi meu colega na FEC. Casou com a Rosa um ano antes de nós casarmos, e já nos estão a dar uma cabazada de 4-2 em filhos: o Manel tem 4 anos, o Zé Maria tem 2, a Tânia é uma «filha que nasceu do coração» e tem 19 anos, e o Xavier está para nascer por estes dias. Há cerca de um ano criaram o blogue Los Amados, onde contam o dia-a-dia da sua família.
www.amadosrock.blogspot.pt
Na segunda gravidez, souberam que o filho tinha um cromossoma a mais. O nosso ADN é formado por 23 pares de cromossomas, e o do Zé Maria tinha 3 cromossomas no par 21. Eu soube disso por um amigo comum: «mas eles vão ter na mesma, acho que é por serem católicos» (assim tipo "coitados, não tiveram outra saída"). O raciocínio tinha a sua lógica, embora em Portugal, onde 81% nos dissemos católicos nos últimos censos, se estime que 95% dos diagnósticos de trissomia 21 terminem em aborto.

Como a Rosa hoje conta no blogue, foi a partilha de outra mãe que a tranquilizou, poucos dias antes de ter a confirmação do diagnóstico: ia estar tudo bem. O blogue deles nasceu dessa vontade de partilhar com outras famílias que cada filho tem os seus desafios, que nem tudo é fácil todos os dias, mas que, no essencial, está tudo bem. E o Zé Maria, que é um amor, já deu a cara na campanha do ano passado da associação Pais21.

Hoje é o Dia Mundial da Trissomia 21. Convidei a Rosa e o João para darem o seu testemunho no programa Lusofonias, que passa às 14 horas na Rádio Sim (102.2 FM em Lisboa, 100.8 FM no Porto). Também os podem conhecer melhor nesta reportagem do programa "Consigo" da RTP. Eles não querem ser modelo de nada, insistem que são mais normais que a maioria das famílias, mas para mim estes amigos são um exemplo e um orgulho.
 

quinta-feira, 19 de março de 2015

O melhor Pai do mundo

Acordou e foi disparada a correr para a cozinha, onde ontem deixara o embrulho do presente que me tinha feito no infantário. Nem falou à Mãe, que ali tomava o pequeno-almoço, de tal maneira estava concentrada na sua missão. Eu, que não acordo com nada, acordei com o barulho dos seus passinhos apressados e percebi logo o que aí vinha, mas fingi que dormia quando a Luísa chegou: «Pai, acorda! É Dia do Pai!»

Quando os fui levar ao infantário, a educadora do Manel entregou-me o "presente dele", um sinal de trânsito com a sua mão, que vinha num envelope com um poema.


Hoje fomos todos o melhor Pai do mundo e é óptimo que haja um dia para o sermos. Sem dúvida que seremos a geração de pais mais afectuosos e interventivos que já houve até hoje. Mas ainda assim assusta-me a quantidade de amigos que foi parar à cadeira do psicólogo, e outros tantos que deveriam ter ido, por causa da relação (ou falta de) com o pai - muito raramente são as mães. Assusta-me, não por achar que vou (necessariamente) provocar o mesmo efeito nos meus filhos. Nem quero cobrar à geração dos nossos pais as falhas que possam ter tido, porque terão sido muito melhores connosco do que os seus pais foram consigo. Só me assusta esta responsabilidade enorme que recai sobre nós em relação a estas criaturinhas admiráveis que nos estão confiadas, e o impacto do nosso comportamento de hoje pela vida deles fora. E lembro-me disto cada vez que perco a paciência, que lhes grito, que me esquivo a ir brincar ou contar a história, que me desleixo na hora de os ir buscar ao infantário... Eu até sou um gajo optimista e pouco permeável a sentimentos de culpa, mas com as mães a entrega aos filhos é tão mais natural e constante - porque se colocam na combustão dos filhos, diz Helberto Hélder - e connosco tudo tem de ser mais pensado e esforçado!...

Como gosto de repetir, vai tudo correr bem! Sendo certo que algumas coisas vão correr mal, como este artigo da Visão hoje bem ironizava. Mas caramba, se há alguma coisa em que eu quero ter sucesso na vida é nisto de ser para eles o melhor Pai do mundo!

domingo, 15 de março de 2015

Muda de vida

Deixei de trabalhar no MSV. Foram 4 anos intensos e cheios de alegrias, que me deixam um rasto de gratidão: ao Pedro, por me ter dado a oportunidade; à Madalena, pela confiança e ousadia; ao Guilherme, pela boa camaradagem; à Dulce, pela cumplicidade e todos os favores; às equipas do Sentidos e da Casa das Cores, pelo profissionalismo e boa disposição; e a todos os que colaboraram nas várias campanhas e responderam aos pedidos indecentes que fiz amiúde. Nunca terei outro emprego onde esteja tão "em casa" como aqui.

Embora gostasse da parte de comunicação, em que aprendi muito, a angariação de fundos não era de facto a minha praia - é preciso ter perfil de vendedor e lata para pedir, que não são o meu forte. Além disso, estava oficialmente a meio tempo, mas com a absorvência deste trabalho (e o meu perfil pouco germânico) fui perdendo a capacidade de encaixar o tempo para ir buscar a outra metade do ordenado a outras actividades, e a satisfação de trabalhar numa causa social ainda não paga as contas. A aproximação da campanha mais exigente do ano, que implica o contacto com mais de 200 empresas e escolas, a gestão de uma equipa de 10 pessoas e muito exercício de tapar buracos, fez soar o alarme de que era altura de procurar outro rumo. Deixei a campanha montada e pronta a servir e deixei de ter um "emprego fixo".

Com filhos pequenos para sustentar (como na "linda falua"), este passo de trocar o certo pelo incerto não podia ser dado às cegas. Há vários anos que sou tradutor e o volume de trabalho tem aumentado, e tenho também o programa de rádio semanal que produzo. Outro empurrão que tive na decisão foi a porta que se abriu para cumprir o sonho de ser jornalista: há um mês que publico artigos no Observador, nas secções de Nostalgia e Família, e precisava de tempo para apostar nisso.

Se vou virar definitivamente para o jornalismo ou se vou voltar à área social, o futuro próximo o dirá. Estou na última fase do recrutamento para um organismo público onde gostava muito de trabalhar; vou dar o meu melhor, mas não depende só de mim. O mundo do jornalismo está mais em fase de despedimentos do que de recrutamentos, mas vou jogar os meus trunfos. "Age como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus", ensina o Santo Inácio.

Por agora, aproveito ao máximo a liberdade de gerir os meus horários e o luxo de trabalhar em casa. O risco maior é gostar tanto disto que já não queira outra coisa!

sábado, 14 de março de 2015

Hoje dormi assim

Hoje dormi no Hospital de Santa Maria ligado a muitos fiozinhos. Já desde Londres que andava para fazer uma polissonografia para despistar (ou confirmar) a hipótese de ter apneia obstrutiva do sono, doença que afecta 1 milhão de portugueses. Com tanta pontaria, acabei por dormir ligado à máquina no Dia Mundial do Sono (13 de Março).

Com o aumento de peso que tive aos vinte e poucos, surgiu o ressonar forte - felizmente a Maria tem sono pesado, mas é grande a lista dos que se recusam a partilhar quarto comigo. Além disso, e apesar dos meus horários destrambelhados para dormir não ajudarem, mesmo numa noite bem dormida é frequente ter sono durante o dia e consigo passar do estado acordado ao adormecido num segundo. Já adormeci em pé, a andar, a tocar viola; quando andava de autocarro, inúmeras vezes acordei no ombro da pessoa do lado, pedia desculpa e no segundo a seguir estava lá caído novamente; no cinema é tiro e queda, fico irritado com o desperdício de dinheiro mas no fim tenho sempre de pedir que me contem a história; e até já fui criticado no trabalho por adormecer em reuniões. Mas fui adiando a ida ao médico, até a Maria tomar a iniciativa.

O teste confirmou que faço apneia durante o sono, embora não pareça (ainda) grave. Com os restantes exames às vias respiratórias, o médico logo me dirá o que posso fazer. Provavelmente uma operaçãozita, creio que não será caso para dormir com uma máscara ligada a uma máquina, como nas apneias mais graves. Por agora, é mais um incentivo para a sempre adiada dieta!

PS: Serve esta crónica para acordar da hibernação que o blogue teve no último mês e meio. Tenho muito para contar!