sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A fada Luísa

A Luisinha achou tudo um bocado estranho. Vestiu e despiu 20 vezes as roupas de fada até chegarmos ao infantário, estarreceu ao entrar no portão e ver um maralhal de mascarados em lutas de serpentinas no recreio (a foto foi tirada nessa altura), mas depois lá ficou divertida a brincar na sua sala.
Entre o diário apressar a Luisinha para chegarmos a horas (sem nunca o conseguirmos), a frágil qualidade dos adereços do chinês e a falta de jeito para compor asas, saia e penteado, ficou mais uma vez demonstrado que este pai não nasceu para Carnavais...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Amadeu

O meu avô chamava-se Amadeu e teve 17 filhos. A minha mãe foi a sétima filha, aliás, a primeira filha depois de seis rapazes. O terceiro rapaz chamava-se Amadeu, nome que também deu a um filho, que por sua vez também tem um filho Amadeu.

A casa do Tio Amadeu era paragem obrigatória quando vínhamos ao Porto, e muitas vezes lhe "cravámos" a casa de Vila do Conde para ficarmos alojados nas vindas ao Norte. Pai de 10 filhos (um deles falecido com apenas 4 anos), avô de 16 netos e bisavô de 4-quase-5, gostava de números e datas, e tinha um gosto especial pelas coisas da família. Na última vez que dormi em sua casa, há 2 anos atrás, estava em pulgas com a publicação de um artigo sobre a nossa família numerosa na revista Sábado. E posso ter dado uma ajuda indirecta para o aumento do seu clã, ao juntar o meu amigo-quase-irmão Pedro com a sua neta Isabel.
Na semana passada, fomos alertados pelas filhas de que o Tio estava muito mal, e vim com a Mãe ao Porto fazer-lhe uma última visita. Já quase não falava, mas, ao ver-me, saudou-me como sempre nos saudava: «Ilustre!», com a engraçada dicção dos meus tios mais velhos, que trocam os "r" por "g". «Ilustgue!»

Fiquei também confortado pela dignidade de uns últimos dias passados em casa, sem tubos nem tratamentos inúteis, na companhia dos filhos que se revezavam para nunca o deixar só.

Além do conforto dos filhos, o Tio morreu segurando um pequeno crucifixo, que a minha Mãe lhe trouxe há dias. O mesmo que um filho seu segurava quando morreu, o mesmo que outra priminha minha segurava quando morreu, o mesmo que o meu avô segurava quando morreu. Curiosamente, depois de ser amparo nesses 3 momentos, o Tio teve a sageza de oferecer o crucifixo ao meu pai, meses antes da sua conversão (mais uma passagem).

São pequenos sinais e grandes exemplos que são fermento de Fé e tornam esta família mais forte, nas alegrias e nas tristezas. O Tio Amadeu foi, sem dúvida, alguém que soube viver centrado no essencial, e é esse testemunho que sobretudo lhe agradeço na despedida.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A Magia de São João Bosco

Esta noite vou baldar-me a Alvalade (que seca isto de não sermos ubíquos, até porque me dava jeito um terceiro que ficasse em casa a traduzir) para ir a um espectáculo de magia na Igreja de São João de Deus, na Praça de Londres. Vamos sobretudo porque um dos ilusionistas é o meu irmão João, e pelo que vi numa rápida pesquisa sobre o Nuno André também é um grande artista.
O tema é a vida de São João Bosco, que, em criança, ajudava a família trabalhando como mágico, tornando-se por isso padroeiro dos mágicos (o dia da sua memória, 31 de Janeiro, é também o Dia Mundial do Mágico).
É às 21h15 e estão todos convidados!

Na ressaca do Valentim

Mesmo não ligando peva ao São Valentim, a verdade é que não resistimos a comprar uma gracinha para dar um ao outro.
A Maria apostou uma vez mais em roupa interior, e não duvido que a recorrente figura do Homer nos seus presentes, neste caso a brincar com a Maggie, seja uma analogia à minha proeminente... qualidade de pai extremoso, só pode!
Eu ofereci-lhe o livro "Felizes para Sempre e Outros Equívocos Acerca do Casamento", do pastor baptista, músico rock-folk-punk e blogger Tiago Cavaco. Vá, confesso, eu queria muito ler o livro e aproveitei a ocasião para me auto-presentear indirectamente, mas tenho a certeza que a Maria também vai gostar. 

É muito bom ser namorado e, garanto-vos, muito melhor sê-lo depois de casado! Não é só uma questão de papel passado, como dizem os cépticos, mas o assumir diariamente que queremos que o horizonte seja mais do que um mero "infinito enquanto dure". 
E não julguem que as coisas perdem a graça com o tempo. Dou-vos um exemplo fresquinho: depois de ter feito o turno da noite, a Maria chegou a casa hoje de manhã e apanhou-me na cama com outra. Não é que acabámos os três a tomar juntos o pequeno-almoço?!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Premonições ao almoço

Desde que começámos a apertar mais o cinto, eu e os meus colegas de trabalho do MSV trocámos os menus económicos das tasquinhas da Baixa pelo ritual do almoço trazido de casa, aquecido no micro-ondas e comido em ambiente familiar, com mesa posta e tudo. Na maioria das vezes, acabo por ser anti-social e não participo na refeição conjunta, ou porque não levei almoço e desço antes ao café para um salgadinho, ou por desleixo acabo mesmo por saltar a refeição. 
Quando me junto aos demais comensais, a conversa é sempre animada, mas há dias houve dois episódios que me fizeram ficar com medo do próximo almoço.

Da primeira vez, estávamos em aceso debate sobre os nossos tipos de massa favoritos - esparguete, cotovelos e por aí fora -, quando alguém falou num tipo de pasta que se chama "radiadores". E mais ninguém sabia da existência de tal coisa, umas massinhas em forma de radiador do motor de um carro. Que coisa mais ridícula, lembro-me de pensar, e de até fazer a analogia com as massas fálicas (para despedidas de solteira, suponho) que se vendem na Ale Hop. Os radiadores seriam o equivalente para os nerds da mecânica. Nessa noite, abro o armário-despensa lá de casa, e o que encontro eu?
Ora bem, este pacote de radiatori que a Maria tinha encontrado em promoção no supermercado. China men, que coincidência!, pensei.

Passados dois ou três dias, uma amiga contava que, para limpar mais a fundo as paredes de casa - retirar as marcas dos móveis e dos quadros - tinha comprado uma "esponja mágica" e que tinha sido super-eficaz. E logo pensei com os meus botões que era uma dica a reter, para quando chegasse o momento - pelo qual todas as crianças passam - em que a Luisinha resolvesse fazer uma obra de arte nas paredes da nossa casa. 
Nesse mesmo dia, ao serão, a petiza apanhou-se sozinha no corredor por uns minutos, e quando demos por ela já tínhamos duas paredes ornamentadas por uma espécie de Mirós, sem termos de ir ao leilão do BPN. Lá lhe demos o devido raspanete, disfarçando a vontade que tínhamos de rir pelo disparate, e a Maria perguntou: "E agora, como é que vamos tirar isto?" Armado em Dona de Casa Perfeita, respondi logo: "Há umas esponjas no Continente que apagam tudo!" E, de facto, com a "Esponja Mágica" as paredes voltaram à sua alvura original.

Eu é que fiquei assustado. E se, no próximo almoço, começam a falar de doenças, ou do Benfica ganhar o campeonato, ou de ter animais em casa? Fico lixado... Pelo sim, pelo não, acho que vou almoçar sozinho por uns tempos.