quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ketchup com cinema (ou será catch up?)

Na corrida para os Óscares, esforcei-me por ver o máximo de filmes e acho que bati um recorde: 4 numa semana.
Happiness is only real when shared
- é a conclusão a que chega Chris McCandless na sua experiência solitária no Alasca. Isto vale mais que todas as aventuras que ele vive, quando decide largar tudo num mundo que não o satisfaz. No entanto, é esse desprendimento (ou fuga?) que lhe permite fazer a descoberta. É uma história real, num cenário fantástico. Vale a pena ver O Lado Selvagem.
Mas o meu filme preferido foi Juno, a história dos 9 meses de gravidez de uma rapariga de 16 anos. A personagem principal tem uma personalidade fortíssima, que nos prende e enternece, e os diálogos no geral são ao mesmo tempo simples e poderosos. Sem moralismos, um exemplo de como se pode levar uma situação inesperada pelo lado positivo. Uma interpretação brilhante de Ellen Page.
Além destes vi ainda a Expiação e o Michael Clayton. No primeiro fui traído pelo meu habitual problema: sala às escuras e tal, vou lutando por manter os olhos abertos mas muitas vezes perco essa luta. Estranhamente, não tem relação directa com a qualidade dos filmes, e neste caso deu para perceber que era um bom filme, apesar de não ser o meu género preferido. O do George Clooney via-se bem, mas fiquei sem perceber qual era a novidade em relação a tantos outros semelhantes.

Oração para esta Quaresma

Faz-nos navegar, Senhor, na embarcação da alegria
que deixámos, algures, escondida no meio dos ramos e da folhagem.
Torna-nos disponíveis para as viagens longas,
como são sempre as do coração:
que viajemos na rota das palavras reencontradas,
as conversas reveladoras, sem mapa preciso,
como o trajecto dos pássaros, de repente, felizes.
Que nenhum ressentimento ou mágoa
desaperte em nós o nó apertado
que nos liga ao amor e à amizade.
Ajuda-nos, antes, a acolher a força trémula e fortíssima da Vida
que perdura em nós
como um chamamento incessante.
Afasta-nos do tempo interrompido, opaco
onde experimentamos a negação
de nós próprios e de Ti.
E que cada dia assinale
a descoberta profunda de nós mesmos e dos outros
na certeza da Tua presença.


José Tolentino de Mendonça

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Pequenas histórias de um dia normal

Estou numa paragem de Alcântara à espera do autocarro para a Baixa e encontro o Tomás, que conheci no sul da Bolívia. Só encontrei 3 portugueses em 2 meses de viagem, por isso a coincidência torna-se maior.
Vou às Finanças comprar um caderno de recibos verdes. Dirijo-me ao guichet da tesouraria, peço, dão-me, pago e a senhora pergunta: "quer recibo?" Isto NAS FINANÇAS!
Os alemães que vieram apoiar o Nuremberga (joga hoje com o Benfica) enchem a Baixa. Às 11 da manhã estão uns vinte sentados numa esplanada da Rua Augusta, cada um com uma caneca de 1 litro à frente. Nem eu tinha visto canecas daquele tamanho por estas bandas! Entro no café para comer e rio-me ao ver a fila enorme para a casa-de-banho. Pudera...
E ao longe vou ouvindo a harmónica deste senhor cego. Sempre a mesma música (tanananã-tarã), desde que a minha Mãe me trazia aqui às compras em pequeno...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

¿Como reservar un Vueling?

Graças à TimeOut - e sobretudo à Tia Mila, que me ofereceu a assinatura -, consegui um vôo para Barcelona por €50 (não é bem um vôo grátis, havia que pagar as taxas). A promoção deve ter tido sucesso, porque só passado 1 mês de me inscrever como assinante é que recebi o email da Vueling a confirmar que tinha direito ao desconto e a pedir para ligar para o call center deles a marcar.
Telefonei hoje e a menina que atendeu do outro lado falou-me em espanhol. Não tentei responder em português, que nestas coisas o meu orgulho patriótico é sempre cilindrado pela vontade de exibir o meu castelhano de sotaque sul-americano. Mas dá para imaginar as conversas de surdos que não haverá, num diálogo que implica soletrar dados dos cartões e endereços de email - todos nós sabemos a facilidade com que nuestros hermanos compreendem a nossa língua!
Já se percebe onde a Vueling corta despesas. Não é bonito e talvez não fosse tão caro recrutar umas vozes portuguesas. Mas quanto à pechincha que me toca, muchas gracias!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Esta Lisboa que eu amo

Subir a Rua Garrett, ainda às moscas, às 8 da manhã.
Tomar um galão e uma torrada na esplanada do Adamastor, com vista para o Tejo, o sol a bater e a obrigar-me a ficar só em T-shirt.
Explorar as novas lojas de coisas velhas: produtos do antigamente na Rua Anchieta, roupa usada junto a S. Nicolau, discos de vinil na Rua do Século.
Ir à casa-de-banho dos Armazéns do Chiado, com vista para o Castelo.
Assinar a nova TimeOut e fazer todas as semanas uma lista de eventos e exposições a ir (ainda que na maior parte das vezes não vá).
E agora ter a oportunidade de trabalhar (em part-time) num projecto em que acredito, num prédio do século XVIII, com azulejos nas paredes e tectos de madeira pintados, no coração da Baixa.
Cada vez gosto mais de Lisboa!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Eliana

Conhecia-a na primeira vez que fui a Vaqueiros, concelho de Alcoutim, faz agora 7 anos. Vivia num lugarejo remoto, devia na altura ter uns 12 anos mas um peso já muito acima do normal, devido a um tumor na cabeça que nunca lhe deu descanso.
Desse tempo longínquo lembro-me de ouvi-la pedir, num terço, não pela sua própria saúde mas por todas as pessoas doentes. Com a mesma afeição com que se ligou a todos os MSVistas que por ali passaram, os seus "amigos de Lisboa", espalhou alegria pelas enfermarias que visitava frequentemente. Sempre que vinha fazer exames a Lisboa ligava a avisar, e lá se combinava quem podia ir fazer-lhe um pouco de companhia. Eu confesso que nunca fui.
Mandou-me uma última carta (para Londres) no Verão passado, com uma fotografia. Pedia para eu lhe mandar uma minha na resposta e perguntava quando é que eu vinha a Portugal e a Vaqueiros, porque tinha saudades. Só há 2 semanas peguei num postal, meti-o num envelope juntamente com a foto prometida, escrevi a sua morada e colei até um selo; só faltava mesmo escrever.
Ficou pela intenção. A Eliana reagiu mal à última operação e sábado estive no seu funeral, em Vaqueiros. Pude pelo menos dizer à sua família que os amigos de Lisboa também vão sentir a sua falta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O céu a seu dono

A fotografia que alberga o nome do blogue lá em cima foi generosamente cedida pela Mafalda, amiga desde tempos imemoriais, cuja extensa obra fotogrática pode ser apreciada no blogue do lado.
Desde sempre que a Mafalda gosta de capturar pôres-do-sol, e muitas vezes teve de ouvir-me gozar com essa mania. Dêem-me um desconto, estávamos na era das fotografias em papel, as revelações não eram baratas e eu não percebia para que é que ela tirava tantas fotos a algo que acontecia todos os dias.
Hoje, ou eu me rendi um pouco mais à beleza da Criação, ou foi apenas a mudança de hábito trazida pelas máquinas digitais, o certo é que me vejo várias vezes a disparar para o ar. Sem tiros, claro. Aqui ficam alguns exemplos recentes.


Porto, Jan 08

Da minha janela na Costa, Jan 08








Algures em Minas Gerais,
Nov 07