domingo, 8 de dezembro de 2013

Senhor Robado

Até esta semana creio que só havia uma peça de roupa que eu não tinha. Das ceroulas de Londres à túnica indiana, do fraque do casamento à sunga do Brasil, gosto de ter no armário tudo o que me permita adaptar a qualquer ocasião. Mas desde miúdo, quando em vão me tentaram oferecer um, que embirrava com o pobre robe e o rejeitava. Porque sou por natureza calorento, porque sempre me habituei a saltar da cama para o banho (sempre antes do pequeno-almoço) e vestir-me logo a seguir, porque detesto tecidos turcos e polares, e porque na minha cabeça preconceituosa o associava às montras amareladas da Rua dos Fanqueiros e às senhoras velhotas, embora um par de amigos me garantissem que era do melhor para aquecer o corpo e a alma.

E o que me fez agora mudar de ideias? Em primeiro lugar, uma necessidade prática: metade das vezes, a Luisinha acorda antes do meu despertador tocar e vem ter comigo a pedir o leitinho, sem contemplações para um "deixa só o Pai tomar banho primeiro", pelo que acabo por ir para a cozinha de cuecas (sou adepto de dormir à fresca); ora, esses minutos ao léu, além de não serem o melhor cartão de visita para a vizinhança, são nesta época do ano um desafio ao meu estoicismo térmico. Em segundo lugar, há qualquer coisa de "já sou crescido" (tal como aqui) e talvez um inconsciente replicar da imagem do meu Pai, quando submergia nos livros depois de jantar, aconchegado pelo seu robe castanho.

Mas o que desequilibrou a balança foi mesmo o lado estético, que comigo se sobrepõe sempre ao utilitário. Posso comprar uma coisa de utilidade ou necessidade duvidosa só por ser gira, mas nunca usaria uma coisa que achasse feia só por dar jeito (pelo contrário, a Maria consegue andar com um casaco herdado e 40 anos inflaccionado, de que não gosta especialmente, só porque é "muito quentinho"). Por isso, quando vi o catálogo da nova Mo, o rebranding abetalhado da antiga Modalfa (muitos furos acima do cinzentismo do C&A e do cheiro a fibra da Primark), o xadrez deste robe despertou o escocês que há em mim (estou cada vez mais convencido que me chamei Mc-qualquer-coisa numa encarnação anterior) e lá rumei à dita loja, de onde ainda trouxe umas calças de pijama a condizer. E aqui estou eu, todo pimpão e muito bem "robado", a fazer zapping entre o Factor X e os comentários à liderança isolada do Sporting. Querem melhor programa para um domingo à noite?

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