segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Premonições ao almoço

Desde que começámos a apertar mais o cinto, eu e os meus colegas de trabalho do MSV trocámos os menus económicos das tasquinhas da Baixa pelo ritual do almoço trazido de casa, aquecido no micro-ondas e comido em ambiente familiar, com mesa posta e tudo. Na maioria das vezes, acabo por ser anti-social e não participo na refeição conjunta, ou porque não levei almoço e desço antes ao café para um salgadinho, ou por desleixo acabo mesmo por saltar a refeição. 
Quando me junto aos demais comensais, a conversa é sempre animada, mas há dias houve dois episódios que me fizeram ficar com medo do próximo almoço.

Da primeira vez, estávamos em aceso debate sobre os nossos tipos de massa favoritos - esparguete, cotovelos e por aí fora -, quando alguém falou num tipo de pasta que se chama "radiadores". E mais ninguém sabia da existência de tal coisa, umas massinhas em forma de radiador do motor de um carro. Que coisa mais ridícula, lembro-me de pensar, e de até fazer a analogia com as massas fálicas (para despedidas de solteira, suponho) que se vendem na Ale Hop. Os radiadores seriam o equivalente para os nerds da mecânica. Nessa noite, abro o armário-despensa lá de casa, e o que encontro eu?
Ora bem, este pacote de radiatori que a Maria tinha encontrado em promoção no supermercado. China men, que coincidência!, pensei.

Passados dois ou três dias, uma amiga contava que, para limpar mais a fundo as paredes de casa - retirar as marcas dos móveis e dos quadros - tinha comprado uma "esponja mágica" e que tinha sido super-eficaz. E logo pensei com os meus botões que era uma dica a reter, para quando chegasse o momento - pelo qual todas as crianças passam - em que a Luisinha resolvesse fazer uma obra de arte nas paredes da nossa casa. 
Nesse mesmo dia, ao serão, a petiza apanhou-se sozinha no corredor por uns minutos, e quando demos por ela já tínhamos duas paredes ornamentadas por uma espécie de Mirós, sem termos de ir ao leilão do BPN. Lá lhe demos o devido raspanete, disfarçando a vontade que tínhamos de rir pelo disparate, e a Maria perguntou: "E agora, como é que vamos tirar isto?" Armado em Dona de Casa Perfeita, respondi logo: "Há umas esponjas no Continente que apagam tudo!" E, de facto, com a "Esponja Mágica" as paredes voltaram à sua alvura original.

Eu é que fiquei assustado. E se, no próximo almoço, começam a falar de doenças, ou do Benfica ganhar o campeonato, ou de ter animais em casa? Fico lixado... Pelo sim, pelo não, acho que vou almoçar sozinho por uns tempos.

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