Foi preciso vir cá uma equipa londrina (que orgulho a prestação do Sporting frente ao Chelsea!) para eu fazer contas e lembrar-me que há 10 anos estava a mudar-me para Londres, onde cheguei a 28 de Setembro de 2004.
Londres era para mim uma cidade de sonho. A minha irmã tinha lá ido em 1989 e eu tinha devorado os mapas e folhetos que trouxe. Eu visitei em 2001, em versão turista sôfrego, a querer ticar todos os highlights. Assim, terminado o curso de Direito, sem rumo definido e aconselhado pelo sábio professor António Barreto a procurar uma experiência internacional, a escolha de Londres para estudar foi óbvia. Os mestrados duravam só um ano, o que era mais suave para a carteira e para o meu coração caseiro. Mas levava a ideia estúpida de que ia só para estudar e passear, sem criar amizades porque já tinha muitos amigos, e sem correr o risco de querer prolongar a estadia. Era ir e voltar.
Uma das primeiras fotos em Londres (Notting Hill) |
Não conhecia lá muita gente: tinha a Margarida, em casa de quem fiquei as primeiras noites, mas que não estava tão perto; e tinha a Migalha, de quem fiquei mais próximo já em Londres. O coração tinha ficado em Lisboa, não senti grande afinidade com os primeiros colegas de curso e de residência que conheci, e não conseguia participar nas aulas (a maioria dos colegas já vinha com experiência profissional e outra bagagem).
Mas o cenário rapidamente melhorou. Comecei a dar-me com o grupo latino da residência, com quem partilhava refeições e serões - aprendi mais espanhol que inglês! Recebi visitas frequentes, fui a todas as festas que pude, conheci a cidade de lés a lés. Escrevia as minhas Crónicas de Londres. Terminados os estudos, muito mais confiante, procurei trabalho e fiquei. Partilhei casa com amigos, num dos bairros mais animados da cidade, e a nossa casa recebeu muitas visitas e foi palco de grandes festas. Vinha a Portugal com frequência e aproveitava as ligações baratas a outras cidades da Europa. Ganhava bem, gostava do trabalho e tinha mais tempo livre.
A dada altura, senti-me mais sozinho e desenraizado, e marquei mentalmente o regresso para uns meses mais tarde (e não de imediato, para cumprir o conselho inaciano de não decidir na desolação). Isso deu-me novo alento para aproveitar melhor o tempo que tinha: meti-me num coro, tive aulas de escrita e virei-me mais para fora. Foi nesta nova fase que conheci a Maria e começámos a namorar; foi obviamente a melhor coisa que me aconteceu em Londres! Mas ainda assim quis regressar e arriscar uns anos de relação à distância, com visitas frequentes. Graças a Deus, não me arrependo dessa decisão.
Os 3 anos que vivi em Londres deixaram-me doces memórias, mas sem dúvida que cá estou melhor. Com um terço do que lá ganhava, tenho cá mais conforto e liberdade de movimentos. A realização profissional pode (ainda) não ser a mesma e a oferta de emprego é incomparável, mas lá chegarei. Em todos os outros parâmetros de bem-estar, Lisboa é mesmo a minha praia. Mas Londres será sempre uma cidade onde voltamos com gosto, sentindo que é a nossa segunda cidade.
Última foto do Crónicas de Londres, com um Banksy em Camden. |
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