Por mais voltas que se dê, o tempo - ou a falta dele - nunca é boa desculpa para não se fazerem pequenas grandes coisas. Tenho para mim que quanto mais ocupado, mais coisas consigo fazer. O meu problema é não as fazer por ordem de prioridade.
Andei de novo a viajar. Dezassete dias pela Índia em Dezembro e dez dias na Guatemala em Abril; pelo meio, uma travessia pelo deserto do desemprego. Somando tudo, deu um buraco no orçamento que vai levar tempo a repor, mas isso não vem agora ao caso, porque graças a Deus e aos Seus representantes (o meu patrão último no actual emprego é a Conferência Episcopal) já tenho de novo um ganha-pão. O que é importante realçar, tenho-o claro, é o privilégio que tive em estar (na melhor companhia) por terras da Nayan e do Roberto, por ocasião dos seus casamentos, conhecer mais da sua cultura in loco e criar amizade com a sua gente.
O maior mérito dos anos que passei em Londres, mais do que o que aprendi na universidade ou no trabalho, foi ganhar mundo. Mundo de cultura e mundo de afectos. E a esses dois níveis estas duas viagens foram bem ricas!
O deserto, esse, serviu para pôr à prova as motivações do regresso a Portugal, salvas in extremis de um regresso forçado à Velha Albion (ainda que fosse bem compensado por dois braços à minha espera). Passada a prova, reforcei a ideia de que, pelo menos por agora, aqui posso fazer muito com pouco, enquanto lá fazia pouco com muito. Fiz-me à vida, bati a várias portas até que alguma se abrisse e pelo meio ganhei também uma actividade paralela, há muito desejada, como tradutor.
E é por aqui que volto aonde comecei. É difícil para um viciado em procrastinação internética como eu manter a concentração na tradução que tenho de acabar por estes dias. Porque a tradução se faz neste mesmo ecrã, numa janela ao lado. E vamos esquecer a hipótese fantasiosa de desligar o cabo da internet - nunca se sabe quando se pode dar o próximo golpe de Estado no Burkina Faso, por isso é melhor espreitar o Diário Digital de hora a hora; e será que alguém pôs fotos novas no Facebook? e porque não escolher uma música de fundo, só para animar o trabalho, no YouTube?
Mas, para contrastar com as muitas coisas inúteis em que vou perdendo tempo, vou tentar acreditar que recomeçar uma actividade produtiva - escrever no blog - me vai ajudar a subir o rácio de produtividade naquilo que tenho mesmo de fazer. Sem assumir aqui que (o blog) agora é que vai ser, que é para não dar azar...