Conhecem a teoria dos seis graus de separação, segundo a qual entre cada um de nós e qualquer outra pessoa do planeta há, no máximo, 6 pessoas pelo meio? Ou seja, eu conheço A que conhece B que conhece C que conhece D que conhece E que conhece F, mesmo que esse F more numa ilha recôndita do Pacífico.
As redes sociais dão-nos uma amostra visual disto mesmo. Por exemplo, o LinkedIn diz-me que estou a 3 graus de separação de 7 milhões de outros utilizadores, logo o crescimento exponencial até ao sexto grau há-de abranger todos os utilizadores da rede.
Cá em Portugal, talvez por vivermos um país pequeno, achamo-nos sempre não a seis, mas a dois graus de qualquer pessoa. Quando conhecemos um estranho, procuramos logo um ponto de encontro - escola, local de origem, empregos passados - com alguém das nossas relações: "ah, então deves conhecer o..." E a verdade é que quase sempre conseguimos mesmo fazer essa ligação! Se o mundo é pequeno, Portugal é uma ervilha.
Quando vivi em Londres, apercebi-me que essa abordagem inicial é muito nossa e que, quando a aplicamos a estrangeiros, roça os limites do razoável. No cúmulo da inocência, uma amiga que me foi lá visitar perguntou à minha flatmate indiana se porventura conhecia (da Índia!) outro amigo nosso de Lisboa, que nasceu e viveu em Goa. Eu ri-me, mas noutras vezes não terei andado longe disto na procura de um suposto amigo comum que me aproximasse dum interlocutor.
Ao nível das figuras públicas, ainda é maior a diferença entre um país grande e o nosso cantinho à beira-mar plantado. Em 3 anos de Londres, nunca vislumbrei ninguém da realeza, do espectáculo ou do desporto, e era óbvio que esses mundos não tinham qualquer cruzamento com as "pessoas comuns" com quem eu convivia na universidade ou no trabalho. Cá é o contrário: artistas, políticos e desportistas cruzam-se connosco com toda a naturalidade no Chiado ou nas Amoreiras, e a probabilidade de conhecermos um primo ou amigo de qualquer famoso é muito maior. E, para não dar o exemplo mais nebuloso do "arranja-me um emprego", posso dizer que na angariação de fundos para causas sociais quase sempre a abordagem começa por aí: ver quem conhecemos na empresa X para conseguirmos uma reunião com o decisor Y, embora cada vez menos (e ainda bem) isso, por si só, seja garantia de uma resposta positiva.
Isto tudo para dizer que, no mesmo dia em que eu a tinha visto nesta inspiradora entrevista no programa do Jon Stewart e em que ela era tida como forte candidata ao Nobel da Paz, algures em Washington, o meu cunhado entrava no mesmo elevador que a Malala. Ela que está empenhada em ser O grau de separação entre as raparigas paquistanesas que querem ter acesso à educação e os mais poderosos do mundo...
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