quarta-feira, 20 de novembro de 2013

No trade-off trabalho-família...

...quanto mais vejo gente a pôr a carreira acima da família (ou do sonho de criar uma), mais me vejo do outro lado da barricada, onde é fabuloso sentir-me na companhia dum dos meus criativos preferidos, Bill Watterson (criador do Calvin & Hobbes).

domingo, 17 de novembro de 2013

Não há longe nem distância

- Badajoz fica muito longe de Lisboa? - perguntou-me há umas semanas o Roberto. 
Vivemos juntos numa residência de estudantes em Londres, e com o Eduardo (chileno), a Catalina e o Juan (ambos colombianos) construímos uma forte amizade. O grupo nasceu num fim-de-semana em Paris, e juntos fomos a um concerto dos U2 em Cardiff, depois vieram todos a Lisboa; já com cada um para seu lado, reencontrámo-nos na Colômbia (2006), no Rio de Janeiro (2007), na Guatemala (2009), de novo na Colômbia (2010) e pela última vez no nosso casamento, cá em Lisboa. Já não nos víamos, portanto, há 3 anos, muito por causa das 6 meninas (sim, todos tivemos meninas!) que nos nasceram entretanto, embora mantenhamos uma regular troca de novidades e fotografias entre todos via WhatsApp.
Paris 2005
Costa da Caparica 2005
Colômbia 2006
Fim-de-ano no Rio de Janeiro 2007
Guatemala 2009
Colômbia 2010
Nosso casamento, 31 Julho 2010

Expliquei-lhe que Badajoz ficava a 2 horas de Lisboa e que obviamente que iria lá ter com ele, mesmo que só por um serão. Ele vinha em viagem de trabalho e era uma oportunidade imperdível para nos vermos. A Maria alinhou logo na ideia, mesmo trabalhando às 8h da manhã seguinte, e combinámos que a Luisinha dormiria essa noite nos avós.
No próprio dia, o Roberto percebeu que não era bem Badajoz onde estava, mas sim Trujillo, 150kms mais distante, e receou que isso pudesse frustrar o nosso encontro. Claro que não! Apanhei a Maria no hospital às 4 da tarde, fizemos 380kms até Trujillo e às nove espanholas estávamos sentados com o Roberto numa mesa de tapas, a pôr a conversa em dia. Lá para a meia-noite fomos deixar a Maria ao quarto (que entretanto tínhamos achado sensato reservar) e voltei com o Roberto para um bar, porque ainda havia muita conversa para desfiar e havia que aproveitar todo o tempo possível. Só saímos de lá quando o bar fechou e despedimo-nos com o plano (bem possível) de um novo encontro geral em 2014.


Dormi das 2h às 5h, arranjámo-nos à pressa e fizemos os 380kms de regresso, a toda a bisga e com a preciosa ajuda do Red Bull - nunca me falha nestas situações! - e do câmbio horário favorável. Às 8 da matina estava a deixar a Maria no hospital, para depois ir levar a Luisinha ao infantário e ir trabalhar.

Todo o esforço valeu mais do que a pena para matar saudades deste amigo. E, para terminar com melosas citações de Mafalda Veiga e Olavo Bilac, longe é sempre um lugar dentro de mim; havendo vontade, do longe se faz bem mais perto!

sábado, 9 de novembro de 2013

Por onde começamos?

Esta fotografia da passada quarta-feira tem corrido as redes sociais. Na sua habitual volta à Praça de São Pedro durante a audiência semanal, o Papa Francisco parou para abraçar e abençoar um homem com um caso grave de neurofibromatose, uma doença que pode provocar nódulos na pele. Uma imagem poderosa, que toca profundamente crentes e não crentes, como se pode ver nesta notícia da CNN (a propósito de ateus e o Papa, vale a pena ler este artigo do Daniel Oliveira).

Lembrei-me logo do "homem do Rossio", um senhor de cara desfigurada (a doença era outra, mas o efeito semelhante) que pedia esmola perto do café Nicola. Durante anos eu dava sempre a volta pelo outro lado do Rossio, só para não ter de o ver, e quando o MSV abriu um projecto que abordava as pessoas sem abrigo e pedintes da Baixa, uma das primeiras coisas que eu perguntei foi: "E vão ter de ir falar com o homem do Rossio?" (Sim, foram.)

Ao ler este artigo de um padre jesuíta americano, lembrei também o gesto de São Francisco de Assis ao beijar um leproso, primeiro gesto de uma reviravolta na sua vida, pouco depois de responder ao apelo de Jesus para reparar a sua Igreja. E mais ainda, todos os gestos de aproximação de Jesus aos leprosos e marginalizados do seu tempo. Gestos que nos permitem ver à transparência o amor de Deus.
São Francisco e o leproso, Santuário de São Francisco, Greccio, Itália (Fonte)
Não acredito que este Papa vá fazer uma revolução na doutrina da Igreja, nem desejo que isso aconteça. Todos estes gestos inspiradores - este abraço, os telefonemas ao jovem italiano e à mulher que pensava abortar, e tantos outros - devem, sim, provocar uma revolução no coração (e na acção) de cada católico (pelo menos). Para não apontarmos o dedo ao pecador, nem evitarmos o encontro com aquele que sofre. Devemos antes parar, abraçar o outro, ouvir "as suas circunstâncias" e manter a conversa aberta. Um envolvimento pessoal que requer tempo e atenção.
Não tiro uma vírgula aos princípios morais da Igreja, não duvido que orientam para uma vida mais plena e concordo que a sua exploração mediática pela negativa é querer ver o todo pela parte. Mas é verdade que muitos de nós, católicos, continuamos mais agarrados à letra do que ao Espírito, e uma coisa é certa: a conversão nasce mais do exemplo do que dos sermões.

Como disse o Papa Francisco este Verão à multidão de jovens reunida no Rio de Janeiro:
Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja; queremos começar, mas por qual parede? Por onde – perguntaram a Madre Teresa – é preciso começar? Por ti e por mim, respondeu ela. Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Diá-Lu-gos #3

Enquanto a Luisinha janta na sua cadeira, a sua mãe, avó e bisavó trocam palpites sobre o sexo do novo bebé.
- A Lu prefere um mano ou uma mana? - pergunta a bisavó, que torce por um rapaz.
- Uma mana - responde a Lu, decidida.
- Acho que a Lu e a avó são as únicas que preferem uma mana... - comenta a avó, já a pensar em novos vestidinhos de menina.
A Luísa fica uns segundos pensativa, com os olhos postos no prato, até que se vira para a avó e pergunta-lhe com ar de espanto:
- Também vais ter uma mana??
...e a Avó também?!?!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

20 anos

Há 20 anos a minha irmã (e madrinha) Isabel casava com o Carlos*, depois de um namoro de 6 anos. Nessa fase era frequente eu entrar como bónus nos programas deles, quando os meus pais não estavam, e talvez por isso o meu cunhado terá sido a pessoa que mais influenciou os meus gostos. O seu único defeito é ser do Benfica.
Lembro-me bem da preparação do casamento, da impressão dos livrinhos da missa e de ir com eles ao José Franco encomendar as casinhas que ofereceram aos convidados. No dia, choveu o tempo todo (e lá diz o ditado...). A noiva chegou 2 horas - DUAS! - atrasada (lembram-se?) à Igreja de Santa Isabel, o que numa era pré-telemóvel deve ter dado umas boas voltas ao estômago do meu cunhado. Com os meus 13 aninhos, fui o "menino das alianças" e pela primeira vez vesti blazer e gravata. Ao almoço, fiquei na mesa com os tios mais novos e o vizinho CP, e terei bebido mais vinho do que a idade recomendava (ainda hoje me acontece). Dançámos bastante e no final os noivos tiveram uma surpresa: o seu bolo sóbrio terá ido parar a outro casamento qualquer, onde certamente o terão achado uma seca, e em troca veio um bolo de cobertura cor-de-rosa cheio de enfeites pirosos!
E assim fiquei "filho único" em casa dos meus pais, por mais 17 anos. O quarto da Isabel transformou-se no "quarto do piano", que se comprou por essa altura. Veio a primeira sobrinha, minha afilhada, que herdou o nome Isabel da mãe, avó e bisavó, e que já está na universidade; a Inês e a Teresa chegaram com menos de 2 anos de diferença entre cada uma, e o João veio 6 anos depois, estava eu já em Londres. Depois de uma primeira década numa casinha de bonecas muito gira, com vista para o Tejo, mudaram-se para uma casa maior, que desde então se tornou ponto de encontro para aniversários e Natais. E estes dois aspectos - os 4 sobrinhos que me deram e a generosidade com que nos recebem - são o que mais tenho a agradecer à Isabel e ao Carlos, e não é pouco!
Parabéns pela família numerosa e feliz! 
Há 4 meses, nos anos da Isabelinha
* Curiosamente, Isabel e Carlos são também os meus pais e os meus sogros!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Hunter é catita!

Todas as semanas ajudo a preparar um programa de rádio, o Lusofonias. É uma parceria entre a FEC e a Renascença, com transmissão na Rádio Sim e noutras 20 rádios espalhadas pelo mundo, sobretudo nos PALOP. A minha função e de outra colega, com quem alterno (semana sim, semana não), é escolher temas e convidados, escrever os guiões das entrevistas e recolher as peças que vão chegando dos vários países onde o programa passa. Embora a preparação de cada entrevista me alimente o bichinho do jornalismo, o que me dá mais gozo é acompanhar em estúdio a gravação da entrevista (eu não falo, só assisto) e contactar directamente com os convidados. Os poucos minutos de conversa off-the-record antes e depois de cada entrevista dão para tirar a pinta à personalidade dos convidados e saber mais sobre as suas instituições. 
Hoje gravámos a entrevista com o fundador da Re-food, o americano Hunter Halder. No início de 2011, começou a bater à porta de restaurantes das Avenidas Novas para recolher as sobras da comida confeccionada que não foi servida, para depois a distribuir pelas pessoas e famílias mais carenciadas da zona. Assim surgiu um projecto fortíssimo, por ter um conceito muito claro: combate o desperdício e mata a fome a quem está a passar por dificuldades, tudo com base no trabalho de centenas de voluntários. Até ao final de 2014, a Re-food conta ter núcleos em todas as freguesias de Lisboa (actualmente já existem 3). 
Parte do sucesso deve-se ao carisma do Hunter, que tem como imagem de marca o chapéu e a bicicleta com que vai para todo o lado. Num português com arreigado sotaque americano, que espero que se perceba razoavelmente em rádio, começa todas as frases por "well" e usa amiúde a palavra "catita", como quem diz "fixe". Queixa-se, a dada altura, que este projecto lhe "comeu" a vida pessoal e que o próximo ano vai ser ainda mais cansativo, mas mantém-se firme no objectivo de tornar Lisboa na primeira cidade do mundo a eliminar o desperdício alimentar.
Uma entrevista para ouvir no próximo sábado, às 14h, na Rádio Sim.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Vem conhecer o MSV!

No terceiro ano da Faculdade, logo a seguir a ter feito o Crisma, entrei para o MSV. O meu amigo Diogo lançou-me o desafio de fazer qualquer coisa diferente no Verão seguinte, e assim foi - na verdade, foram 3 Verões seguidos em missão (dois em Vaqueiros, concelho de Alcoutim, e o terceiro em Montes Claros, Minas Gerais) a visitar idosos, dar explicações a crianças, animar celebrações e partilhar conhecimentos (campo/cidade, Portugal/Brasil). Passei também a ir um fim-de-semana por mês a Vaqueiros, durante 4 anos. E a fazer uma peregrinação a pé todos os anos, até hoje.
Estas experiências fizeram-me crescer e assumir responsabilidades, abriram-me os olhos para outras realidades, foram decisivas nas escolhas profissionais e fizeram entrar na minha vida um grupo enorme de amigos. Acredito que tenham ajudado a ser um melhor cristão, que é sempre um work in progress.
Com o projecto Sentidos e a abertura da Casa das Cores, o MSV ganhou entretanto um lado profissional, quer para a instituição, quer para mim próprio. Mas mantém este lado de movimento católico de oração e voluntariado, onde se joga muito a sua vitalidade.
E hoje é dia de acolher novos MSVistas! Logo à noite (21h15) na Igreja do Rato, a nossa "casa" para este ano. Se quiseres conhecer melhor o que fazemos, aparece por lá!