Esta fotografia da passada quarta-feira tem corrido as redes sociais. Na sua habitual volta à Praça de São Pedro durante a audiência semanal, o Papa Francisco parou para abraçar e abençoar um homem com um caso grave de neurofibromatose, uma doença que pode provocar nódulos na pele. Uma imagem poderosa, que toca profundamente crentes e não crentes, como se pode ver nesta notícia da CNN (a propósito de ateus e o Papa, vale a pena ler este artigo do Daniel Oliveira).
Lembrei-me logo do "homem do Rossio", um senhor de cara desfigurada (a doença era outra, mas o efeito semelhante) que pedia esmola perto do café Nicola. Durante anos eu dava sempre a volta pelo outro lado do Rossio, só para não ter de o ver, e quando o MSV abriu um projecto que abordava as pessoas sem abrigo e pedintes da Baixa, uma das primeiras coisas que eu perguntei foi: "E vão ter de ir falar com o homem do Rossio?" (Sim, foram.)
Ao ler este artigo de um padre jesuíta americano, lembrei também o gesto de São Francisco de Assis ao beijar um leproso, primeiro gesto de uma reviravolta na sua vida, pouco depois de responder ao apelo de Jesus para reparar a sua Igreja. E mais ainda, todos os gestos de aproximação de Jesus aos leprosos e marginalizados do seu tempo. Gestos que nos permitem ver à transparência o amor de Deus.
São Francisco e o leproso, Santuário de São Francisco, Greccio, Itália (Fonte) |
Não acredito que este Papa vá fazer uma revolução na doutrina da Igreja, nem desejo que isso aconteça. Todos estes gestos inspiradores - este abraço, os telefonemas ao jovem italiano e à mulher que pensava abortar, e tantos outros - devem, sim, provocar uma revolução no coração (e na acção) de cada católico (pelo menos). Para não apontarmos o dedo ao pecador, nem evitarmos o encontro com aquele que sofre. Devemos antes parar, abraçar o outro, ouvir "as suas circunstâncias" e manter a conversa aberta. Um envolvimento pessoal que requer tempo e atenção.
Não tiro uma vírgula aos princípios morais da Igreja, não duvido que orientam para uma vida mais plena e concordo que a sua exploração mediática pela negativa é querer ver o todo pela parte. Mas é verdade que muitos de nós, católicos, continuamos mais agarrados à letra do que ao Espírito, e uma coisa é certa: a conversão nasce mais do exemplo do que dos sermões.
Como disse o Papa Francisco este Verão à multidão de jovens reunida no Rio de Janeiro:
Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja; queremos começar, mas por qual parede? Por onde – perguntaram a Madre Teresa – é preciso começar? Por ti e por mim, respondeu ela. Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar.
Não tiro uma vírgula aos princípios morais da Igreja, não duvido que orientam para uma vida mais plena e concordo que a sua exploração mediática pela negativa é querer ver o todo pela parte. Mas é verdade que muitos de nós, católicos, continuamos mais agarrados à letra do que ao Espírito, e uma coisa é certa: a conversão nasce mais do exemplo do que dos sermões.
Como disse o Papa Francisco este Verão à multidão de jovens reunida no Rio de Janeiro:
Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja; queremos começar, mas por qual parede? Por onde – perguntaram a Madre Teresa – é preciso começar? Por ti e por mim, respondeu ela. Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar.
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