A 25 de Abril, o Nepal sofreu um enorme terramoto, cuja devastação todos vimos na televisão. Chamou-me a atenção, pela dimensão da tragédia, com 8 mil mortos, e porque ainda tinha fresca na memória a viagem recente de duas amigas, que voltaram conquistadas pela simpatia daquele povo.
No próprio dia, levado pelos "likes" e partilhas de amigos meus no Facebook, cheguei ao primeiro post feito pelo Pedro Queirós após o terramoto. Não só o Pedro era "amigo de amigos" (esta categoria de relação própria das redes sociais), como a cara do amigo que com ele partilhou o susto, Lourenço Macedo Santos, me era familiar lá da Costa - na adolescência demos mergulhos e bebemos copos nos mesmos sítios. Além destas afinidades, a curiosidade de ter notícias do terreno em primeira mão fez-me continuar a seguir os relatos que o Pedro ia pondo na sua página.
Mas rapidamente a minha curiosidade se transformou em admiração. Primeiro, o Pedro e o Lourenço resolveram pegar no seu dinheiro e comprar alimentos para distribuir pelos desalojados num parque. Motivados pelo impacto dessa acção e pelos donativos que começaram a receber de Portugal, abdicaram do vôo que tinham marcado e decidiram ficar. Tinha nascido a campanha Obrigado Portugal, nós também somos Nepal.
Com a ajuda de aliados locais, começaram a levar grandes quantidades de comida a aldeias remotas onde foram a primeira ajuda a chegar. Horas de viagem, sentados em sacos de arroz em carrinhas de caixa aberta. Depois, construíram em Katmandu um campo para pessoas que tinham sido deslocadas de uma aldeia distante - o Campo Esperança, que se está a tornar num case study. Na última semana, começaram a construção de casas numa aldeia, com a ajuda de arquitectos conhecedores de técnicas resistentes a sismos - já vários voluntários se juntaram entretanto ao projecto. Todas estas conquistas foram relatadas diariamente, com o detalhe das despesas e muito humor. Dá para nos sentirmos lá também. Até porque a bandeira portuguesa está sempre presente, de mãos dadas com a nepalesa.
Quando soube que vinham a Portugal matar saudades e, sobretudo, divulgar a causa, tratei logo de os convidar para uma entrevista no Lusofonias. Como já tinham acertado uma entrevista com o Ricardo Conceição, da Renascença (passou ontem em directo) e a "casa" era a mesma, unimos esforços e vamos retransmitir essa conversa na Rádio Sim.
No estúdio da Rádio Sim (102.2 FM). A entrevista passa no dia 20, às 14h. |
Pessoalmente, foi um privilégio poder passar a tarde de ontem com eles, acabadinhos de aterrar em Lisboa, e ouvir de viva voz os pormenores das histórias que há mês e meio sigo pelo Facebook. O entusiasmo e a entrega do Pedro e do Lourenço são inspiradores. O período sabático que tinham destinado a viajar deu lugar a este trabalho inesperado, que lhes tem preenchido e ensinado muito. Pelo menos até ao Natal, e enquanto tiverem fundos para investir nestes projectos, vão continuar no Nepal. E os resultados são brutais: cerca de 50 mil pessoas com ajuda imediata (alimentos e tendas, sobretudo), um campo que alberga 327 pessoas (com tenda médica e tudo) e duas casas quase construídas na vila de Chapagaun (com direito a reportagem na tv nepalesa).
O Lourenço e o Pedro a verem a reportagem da tv nepalesa sobre as casas que estão a construir. |
Quem quiser juntar-se à causa, pode seguir a página da campanha no Facebook, fazer um donativo para o NIB abaixo ou promover uma angariação na sua família ou no trabalho, ou meter-se no avião para lhes ir dar uma mãozinha (mas só a partir de Julho!).
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