domingo, 31 de dezembro de 2023

12 momentos de 2023

2023 não foi um ano bom para o mundo, com o rebentar de nova guerra em Israel/Gaza, a guerra na Ucrânia a continuar, o política portuguesa sem rumo nem luz ao fundo do túnel, a inflação a subir, os serviços de saúde a implodir e o Benfica campeão. Só desgraças...

Pelo contrário, aqui em casa temos muito a agradecer. A Maria acabou o Mestrado em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e começou a fazer visitas a recém-nascidos. A Luísa está cada vez mais autónoma (já no 7º), o Manel é finalista da primária, o Zé mudou para o JI da escola pública e o João está cada vez mais engraçado. A Trustlation - empresa de tradução, do Luís e minha - continua em grande forma; este ano fizemos cerca de 400 trabalhos. Tentei manter-me saudável, com 80 corridas e 2 sessões semanais de treino com o PT Filipe da Peak Training, e o acompanhamento da Magda Leitão.

Neste ano, nasceu o Francisco (Ana e Sérgio), a Filippa (Joana e Gijs), o Joaquim (Ana Isabel e Luís), a Maria do Carmo (Vitória e João) e a Helena (Diana e Pedro). Na outra ponta da vida, o Avô Rui ficou a 1 ano, 1 mês e 1 dia de chegar aos 100 anos, mas deixou-nos o testemunho de uma vida cheia e vertical.

Deixo aqui os momentos que mais me marcaram em 2023:

1. Visita a Cambridge

Em janeiro, fiz uma escapadinha de 2 dias a Cambridge para visitar o Rui e a sua família. Já levamos 28 anos de conversa sem filtro e perspicaz leitura mútua, e assim foi mais uma vez. Mostraram-me os lugares das suas rotinas, provámos comida de três continentes e matámos saudades de poder estar sem tempo contado. Cada vez mais, um luxo a que aspiro.

2. Arsenal - Sporting em Londres

Uma tradição dos últimos anos, tenho ido com o Vasco ver um jogo europeu do Sporting. 
Tempo de qualidade, agora que temos o Atlântico pelo meio. Em 24 horas, fizemos 30 kms a pé em Londres, deu para rever os sítios onde fui tão feliz (residência, casas, universidade, mercado...), e subir à melhor vista da cidade (Primrose Hill).
O jogo foi super-emocionante, David contra Golias - o Arsenal liderava na altura o campeonato inglês. Fomos até ao estádio no cortejo das claques, e depois foram 3 horas sempre em pé, a puxar pela equipa, com um golo do outro mundo (Pote, do meio campo) e a vitória nos penalties.
Viva o Sporting!

3. Passeio a Madrid


Na semana depois da Páscoa, fomos os seis a Madrid. A Maria voltou lá, vinte anos depois de ter feito Erasmus. Passámos cinco dias nesta cidade cheia de vida, onde os horários encaixam no nosso ritmo, comemos churros e tapas, visitámos o Museu Rainha Sofia e o estádio do Real Madrid, e passámos um dia no Parque Warner.

4. Equipa de Casais de Nossa Senhora
Há três anos que temos uma Equipa - cinco casais e um padre - com quem fazemos caminho na Fé, em reuniões mensais que vão rodando pela casa de todos. Este ano foi um ano bem-aventurado, não só pelo nascimento do Francisco e da Maria do Carmo, como pelo fim-de-semana que passámos juntos em Lagares, com muito tempo para mergulhos, bolos e churrascos, e sobretudo para nos conhecermos melhor. 

5. Coldplay em Coimbra
O concerto mais aguardado do ano. Para lá do desfilar de sucessos, antigos e novos, todo um espetáculo de luz e cor, pulseirinhas a piscar, em boa companhia.

Este ano, vimos também: Lena d'Água no Tivoli; Zambujo e Yamandu Costa no CCB; Miguel Araújo no Teatro de Almada; Vitorino e convidados no Terreiro do Paço; Zambujo, Buba e Trigacheiro em Faro; Commedia a la Carte no Tivoli; Zambujo e Araújo no Altice; Salvador Sobral no CCB; "Todas as Coisas Maravilhosas" do Ivo Canelas.

6. Batismo da Maria
A escolher "o" momento do ano, seria este. A Maria esteve um ano a ter catequese de adultos com a Teresa - que se tornou amiga - e este foi o culminar do percurso.  Tudo pelo seu próprio pé, eu fui apenas um espectador orante no processo - e depois fui padrinho. O batismo foi a 28 de maio, na igreja de Santa Joana Princesa.
Também este ano, o Manel fez a Primeira Comunhão e a Luísa fez a Profissão de Fé. Foi um "ano de prodígios", com mais duas celebrações importantes na família Fernandes Albino.

7. Passeio ao Norte com a Mãe
Depois de uma fase em que quase perdia a mobilidade, a Mãe foi operada à coluna no fim de 2022 e ganhou uma nova vida. Para festejar, levámo-la a passar uns dias no Norte, entre o Porto e Famalicão, com saborosas visitas a alguns familiares.

8. Encontros com Nayan e Chintan em Lugano e com Roberto e Marianne em Berlim
A Nayan e o Roberto são dois amigos muito próximos que fiz em Londres. Conhecemo-nos na mesma residência de estudantes, e depois ainda partilhei casa com a Nayan.
A Nayan e o Chintan são de Bombaim e moram em Singapura, já os visitámos em ambos os lugares. Mas desta vez aproveitámos a sua vinda de férias à Europa para irmos ter com eles a Lugano.
O Roberto e a Marianne são da Guatemala, fazem parte do grupo latino com quem nos continuamos a juntar regularmente. Ele veio correr a Maratona de Berlim e nós fomos lá ter com eles.
Duas escapadelas express de Verão a dois, para encontros a quatro.

9. Batizado da Madalena
O Diogo e a Jana confiaram-me a grande responsabilidade de ser padrinho da sua Madalena, nascida no Zimbabwe e que agora vive em Caracas - vamos visitá-los em breve. Uma festa muito simpática, onde revimos parte do grupo que se juntou para o seu animado casamento na Chéquia. 
Só tivemos um casamento (muito especial), mas tivemos seis batizados este ano.

10. Jornada Mundial da Juventude
Depois de ter estado em Roma 2000 e Toronto 2002, foi uma alegria poder viver a JMJ na nossa terra, com a cidade invadida por um milhão de jovens de todo o mundo. O colorido, os cânticos, o silêncio, a variedade de carismas dentro da mesma Igreja. E um sucesso de logística e testemunho, num ano que não estava a ser fácil para a Igreja portuguesa.
Tínhamo-nos disponibilizado para acolher jovens em casa, mas acabou por não ser preciso. Estive em todos os eventos com o Papa no Parque Eduardo VII, na visita à UCP e no Parque Tejo, e a Luísa e o Manel também estiveram em quase tudo. 


11. Ida ao Joker
Cumpri o sonho de infância de ir a um concurso na televisão
Convidei o André para Super Joker, e levei a Maria e a Luísa para assistir.
Mais do que os 1000 euros, gostei do resultado daquela hora de televisão, deu para dizer umas piadas em prime time e conhecer o Vasco PalmeirimAcabámos tramados pela stracciatella, mas ficámos com uma experiência para a galeria das melhores memórias.

12. Visita a Ana e Sérgio no UK
A Ana 
e o Sérgio mudaram-se este Verão para o sul de Inglaterra, e nós fomos visitá-los rapidamente. Felizmente, continuamos a ter muitos amigos que não se importam de nos receber em casa. Um fim de semana alargado para pôr a conversa em dia, dar um salto ao centro de Londres e outro aos estúdios do Harry Potter. Tivemos ainda um saboroso reencontro com a 
Margarida e família.

Desejo um feliz 2024 a todos!

domingo, 18 de abril de 2021

Pai

Soubemos em meados de Dezembro que o Pai tinha um cancro nas vias linfáticas, sem tratamento. Tinha acabado de fazer 81, o coração já lhe tinha pregado dois sustos e a memória às vezes tinha uns bugs. Depois do choque do diagnóstico, juntámos todos os apoios para que pudesse ficar sempre em casa. Claro que o apoio maior e incansável foi a Mãe, sua grande cuidadora há 53 anos. Mas vários braços e corações se juntaram para que estivesse ainda mais acompanhado e com todo o conforto. Ainda conseguimos que conhecesse o João Pedro, nono neto. Morreu este sábado, em casa, sereno e rodeado da família - um luxo reservado a poucos.

O Pai descobriu a Fé a meio da vida. Batizou-se pouco antes de casar, ainda com uma adesão parcial. Anos depois, em Fátima, teve um súbito desejo de se confessar e fazer um caminho de joelhos no Santuário - o Pai sempre foi racional e crítico de excessos religiosos, mas há momentos espantosos. No regresso, pediu ao pároco da Costa que lhe desse catequese, e o Pe. Mário trocou-lhe as voltas e desafiou-o antes a ser catequista. Nas décadas seguintes, deu catequese, preparou casais para o casamento, orientou grupos de jovens, até entrou num teatro de Páscoa (das minhas memórias mais antigas). E passava horas, noite dentro, fechado no quarto a ler toda a exegese sobre cada versículo da Bíblia. Nos minutos antes de morrer, repetiu várias vezes a palavra "Fé". E este testemunho vêm em primeiro lugar no extenso rol do que lhe devemos. 

Um par de horas depois, voei da Costa para o Campo Grande, onde a nossa Luísa ia receber a sua primeira Bíblia na "Festa da Palavra" da catequese, que acabou por ser a primeira missa por alma do avô. "O Pai era um apaixonado pela Bíblia; tens de estar com a tua filha e despertar-lhe esse mesmo amor". A Mãe sempre foi boa a lembrar-me das prioridades. 

Nestes últimos meses, além das visitas mais frequentes, acompanhei-o em dois momentos importantes. Levei-o pelo braço, com dificuldade, até à mesa de voto - onde não podia faltar, não por entusiasmo nos candidatos, mas por ter um dever a cumprir (nunca foi de ter medo). E a sua última confissão com um dos seus amigos jesuítas do Pragal foi dentro do meu carro (comigo fora, claro).

Cara de olhar para os netos

Há uns meses fiz quarenta anos e teimei em fazer uma festa maior. Tinha o feeling de que o tempo para estarmos todos juntos começava a escassear, e queria que os meus amigos o revissem ou conhecessem. O Pai não era muito de festas, mas sempre foi alegre e conversador, e assim esteve nesse dia. Aposto que o Pai nunca tinha ido a um concerto pop, mas vou guardar a memória de o ver a bater palmas acima da cabeça ao ritmo do Miguel Araújo.


Confiamos que o Pai já esteja no eterno encontro face a face, onde um dia nos encontraremos. E nós, que ainda estamos aqui, havemos de cuidar uns dos outros - muito em especial da sua mulher e da sua irmã - com a mesma atenção ao detalhe do Senhor Engenheiro.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020 em revista


Um ano tão fora do comum merece que ressuscite o blogue para um balanço. 

2020 até nem começou mal: tivemos a casa cheia de amigos na passagem de ano; a Maria começou um mestrado em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia; fiz uma visita-relâmpago à Joana, em Amesterdão, para conhecer o seu bebé; e tivemos as habituais festas de anos, jantares de amigos e idas ao futebol - até tive o prazer de levar a tia Mila de volta a Alvalade!  

Visita de 24 horas à Joana em Amesterdão

Exposição Harry Potter (traduzida pela Trustlation)

A Tia é uma força da natureza! 

O "bicho" entrou em Março e ficámos fechados em casa. Houve quem conseguisse fazer pão e trabalhos manuais, pôr a leitura em dia ou descobrir vocação para o homeschooling, mas aqui foi basicamente o caos: os miúdos em casa e a pedir atenção, o trabalho não diminuiu assim tanto e a Maria continuou a sair para trabalhar até ao Verão, por isso instalou-se uma anarquia de horários, ecrãs e desarrumação, como contámos à Ana Galvão da Renascença, uma das poucas pessoas que entrou em nossa casa nesses meses.

Também ficaram por usar os voos para as férias da Páscoa na Guatemala (com os amigos latinos), um casamento na República Checa e uma ida à Oktoberfest com os melhores amigos.  

Claro que houve coisas boas neste "novo normal": uma ínfima parte do tempo com os filhos foi "tempo de qualidade"; pudemos gerir mais livremente a nossa agenda, sem tantas solicitações; passámos a juntar-nos com amigos em parques e piqueniques; comecei a correr e consegui perder 7kgs (mas ainda tenho um longo caminho a percorrer). E os "nossos" bebés deste ano nasceram durante o primeiro confinamento: a sobrinha Madalena, o Vasquinho do Edgar e da Graze, a Teresinha da Ana e do Sérgio (mais tarde, nasceram a Ritinha, da Rita e do Bruno, e o Francisco, da Tânia e do Duarte).
Teletrabalho...
O primeiro aniversário festejado em Zoom com os amigos

Ana Galvão da Renascença em direto da nossa cozinha


Depois veio o calor, os dois rapazes ainda voltaram ao infantário e pudemos alargar um pouco os horizontes. Começámos com idas à praia, piqueniques e churrascos em quintais de amigos. Em Agosto, vivemos dias felizes na Costa e no Algarve, onde partilhámos casa com primas e amigos, e tivemos muito bons reencontros.

No "melhor dia para casar", celebrámos 10 anos de casados com a família alargada numa esplanada com a melhor vista de Lisboa, depois de uma missa celebrada pelo nosso amigo Artur, acabado de ser ordenado padre. Tivemos o batizado da sobrinha Madalena, de quem tive a honra de ser padrinho. Fomos ao Algarve casar a Belinha e o Luís, e a festa possível foi feita na praia. E acabámos o Verão num fim-de-semana fantástico com os amigos da Costa. No fim do ano, passámos a fazer parte de uma Equipa de Casais de Nossa Senhora e a nossa Luisinha fez a Primeira Comunhão.
Com o padre Artur

10 anos de casados

Na Costa com os primos do Brasil

Com a prima Mar em Tavira

Com Mafalda e André na Praia da Luz

Fim-de-semana com amigos da Costa

Primeira Comunhão da Luísa no Campo Grande

No ano de todas as quarentenas, os frutos da colheita de 1980 viraram quarentões. Boa parte das festas ficaram adiadas para melhores dias, mas nós tivemos a sorte de apanhar uma época mais desconfinada do ano. A Maria organizou uma caminhada e piquenique em Sintra, um programa bem ao seu gosto. Eu festejei os quarenta numa tarde memorável no Páteo Alfacinha, e num tiro de sorte consegui ter o enorme Miguel Araújo em concerto exclusivo
Anos das Marias em Sintra

Um dueto improvável a "ver os aviões"

A terminar um ano pesado, onde vários amigos perderam pais e avós, tivemos a notícia de que o Pai tem um cancro nas vias biliares, sem tratamento possível, por isso temos um tempo escasso para aproveitar a sua companhia. É o que estamos a tentar fazer e é a nossa prioridade para os próximos meses.



No fundo, não há anos bons e anos maus. Em todos temos de multiplicar a alegria e apoiar-nos nas dificuldades. E o milagre da vida trará sempre novas razões para sorrir: em meados de fevereiro, se Deus quiser, nasce o nosso João Pedro! E não podíamos desejar melhor motivo para encarar 2021 com otimismo.

Que o ano novo nos devolva os abraços, a liberdade de movimentos, os bailaricos e, já agora, o Sporting campeão!


sábado, 25 de fevereiro de 2017

Amor de Mãe

Fonte
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
Herberto Hélder

A minha Mãe faz 75 anos.

Maria Isabel, como a mãe que cegara antes de a ver nascer e que perdeu aos sete anos. Perder é uma forma de dizer, porque na comunhão dos santos só há ganhos e o modelo da Avó foi e é bem presente.

Primeira menina depois de seis rapazes, ainda teve mais dez irmãos. Daqui resultaram 61 sobrinhos, 83 sobrinhos-netos e uns quantos sobrinhos-bisnetos. Primos também não faltam, porque o seu avô paterno já tinha sido pioneiro da prole "chapa 17" e pelo lado materno também não eram poucos. Esta abundância familiar, que não se esgota nos números, foi sobretudo uma escola de partilha e de atenção multiplicada, mais do que dividida. E ajudou a exercitar a proeza de saber de cor as datas de nascimento de meio mundo.

Estudou para professora primária na Veneza portuguesa. Ensinou três anos no Minho dos anos 60 e das sopas de cavalo cansado. Os pais iam à escola dar-lhe luz verde para bater nos filhos, mas não ia nessa conversa. Consta que deixou boas memórias, mas fartou-se e trocou Famalicão por Lisboa.

Por cá, conheceu um engenheiro ribatejano, namoraram 9 meses e passado outro tanto de terem casado nascia a primogénita. Dois anos depois, vinha um rapaz. Foi preciso esperar mais dez para vir a obra-pr... o benjamim. E "colocou-se na combustão dos filhos", a tempo inteiro. O tempo todo para nós, querem maior luxo? Por isso pude ficar em casa até aos cinco anos. Por isso pude gozar livremente tantas tardes na infância, sem outra "ocupação de tempos livres" que não fazer aquilo que bem me apetecia.

Estando disponível para nós a 100%, nunca nos prendeu. Sempre pudemos ir sozinhos para a escola, escolher as actividades e os estudos de que gostávamos, amar quem escolhemos, sem interferências. Nos anos que vivi em Londres, nunca fez da distância um drama. O horizonte das sua ambição para nós não é "deste mundo".

Sempre nos mostrou que a Fé é o mais importante. Foi catequista, orientou grupo de jovens, preparou noivos, esteve em grupos de casais. Fez amizade nos vários mosteiros onde passávamos férias e pela nossa sala de jantar passaram muitos padres. Quando foi possível, conquistou o seu cantinho em Fátima, onde sempre foi amiúde.

Não gosta especialmente de cozinhar e já delegou nos filhos o papel de reunir a família à mesa, mas continua a brindar-nos com o melhor bolo do mundo. O excesso de açúcar nunca foi drama lá em casa, ou não tivesse o próprio Abade de Priscos andado pela cozinha dos meus bisavós. Nunca acabava um doce sem me chamar para rapar o tacho, com o mesmo ar maroto com que hoje enche os netos de biscoitos.

Aos 75, continua fresca. Atenta a todos, agora ainda com maior alcance pela janela do Facebook. A cuidar do marido, adaptando-se ao seu ritmo. A cuidar dos netos sempre que precisamos. E a confiar-nos todos os dias nas mãos de Deus. Assim Ele a mantenha.

A minha Mãe faz anos. Mas a maior felicidade é nossa.

sábado, 31 de dezembro de 2016

2016 em balanço

No último dia do ano, ressuscito o Fio Mental para recordar tanto que tenho a agradecer em 2016.

O ano ficou marcado pela nossa viagem de 20 semanas pela América do Sul. Um projecto a que chamámos O Verbo Ir, com direito a blogue, Facebook e Instagram, e 17 artigos no Observador. Em 140 dias, visitámos 40 cidades na Colômbia, Equador, Peru, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Tomámos banho nas águas quentes de Cartagena e do Rio de Janeiro, tiritámos a -17ºC no deserto de Atacama e brincámos na neve em Bariloche. Estivemos ao pé de lamas, baleias e pinguins, vibrámos com a vista de Machu Picchu ou das Cataratas do Iguaçu, mas no top das memórias ficaram-nos as experiências humanas: fomos recebidos em 11 casas, conhecemos primos no Rio, falámos com um dos famosos mineiros chilenos e passámos uma semana de sonho com grandes amigos na Colômbia. E tudo isto valeu sobretudo pelo privilégio de estarmos os quatro juntos, 24 horas por dia, durante tanto tempo.


Apesar destes meses de férias alargadas, foi um ano muito exigente a nível profissional. Abri uma empresa de traduções, a Trustlation, com o meu amigo Luís, e a experiência está a ser muito boa. Continuo a produzir o Lusofonias, o programa da FEC na Rádio Sim, onde entrevistámos mais 52 pessoas, como o Júlio Isidro, a Laurinda Alves ou a Secretária de Estado Ana Sofia Antunes. No primeiro semestre, fiz também as newsletters da FEC. Escrevi 9 artigos para a secção Nostalgia do Observador. Fiz um curso de blogues com o Arrumadinho e um curso de escrita de viagens com o Tiago Salazar na Palavras Ditas.


Nasceu a minha sobrinha e afilhada Benedita, o Pedro (Marlene e Paulo), o Filipe (Francisca e Thiago), a Maria Inês (Ana e Paulo), a Isabel (Sofia e Pedro), a Clarinha (Rita e Bruno), o Tomás (Diana e Pedro), o Lourenço (Joana e Vasco) e a Maria (Isa).  Pela primeira vez em muitos anos, não tivemos nenhum casamento (teremos em 2017!), mas fomos a três baptizados. Acompanhámos amigos nas duras despedidas de pais e avós. Fui com o Vasco ver o Sporting a Alvalade 15 vezes. Fui com a Maria ouvir António Zambujo e Miguel Araújo no Coliseu, e Ivete, D.A.M.A e Maroon 5 no Rock In Rio. Andámos com os miúdos de autocaravana, passámos um fim-de-semana no Algarve e outro em Fátima, com amigos. E continuo a visitar o Lar de Nossa Senhora da Vitória.

Que o ano de 2017 nos traga muitas oportunidades para sermos melhores e darmos mais de nós!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Diá-Lu-gos #9

Lu: - Pai, para que é que serve a língua?
Eu ponho a língua de fora e explico: - Estás a ver estas pintinhas? Elas servem para ver se a nossa comidinha é doce, salgada ou amarga... É a língua que nos diz qual é o sabor dos alimentos.
Lu pensativa: - Ela diz... mas nós não ouvimos?!

sábado, 19 de setembro de 2015

Em Roma - programa cultural

Na quarta à tarde, tivemos direito a uma visita guiada pelo D. Carlos Azevedo aos Museus do Vaticano e à Basílica de São Pedro. Já lá tinha estado, mas com uma boa explicação de quem percebe do assunto faz toda a diferença!
D. Carlos Azevedo deu-nos uma lição de História de Arte
O grupo à porta da Basílica de São Pedro
Antes do jantar, parámos numa esplanada para retemperar forças com uma Peroni e brindar aos anos do Edgar, o nosso logístico em Bissau.
Fim de tarde em Trastevere
Jantámos na Trattoria degli Amici, um restaurante gerido pela Comunidade de Sant'Egidio, que integra pessoas com deficiência no seu staff - e serve uma óptima comida italiana a preços decentes. Juntaram-se a nós o Pe. Nuno Gonçalves, jesuíta, actualmente à frente da Faculdade de História da Universidade Gregoriana, que eu conhecia dos tempos em que orientou o grupo de CVX dos meus Pais, e o Attilio Ascani, director da FOCSIV, a congénere italiana da FEC.
Jantar na Trattoria degli Amici
Na quinta-feira, o meu avião partia ao início da tarde, por isso madruguei novamente para aproveitar a manhã ao máximo.
Na Praça de São Pedro
Na Piazza Navona
Na Via dei Portoghesi, onde fica a Igreja de Santo António dos Portugueses
Depois de muito andar, e seguindo os conselhos de quem lá vive, passei na geladaria Frigidarium para o merecido antídoto contra o calor húmido da cidade.
Tive de conferir se era mesmo a melhor geladaria de Roma
Antes de rumar ao aeroporto, fiz uma visita à Rádio Vaticana, que transmite o nosso programa Lusofonias. Foi bom dar um rosto às pessoas com quem troco e-mails semanalmente.
E assim foi esta visita de dia e meio à capital italiana!