Há dias apanhámos um grande susto com a Luisinha. Na consulta dos 2 anos, entre um rol de coisas que podiam acontecer nesta idade, o Dr. Mário Cordeiro tinha-nos falado em "terrores nocturnos" e eu tinha assimilado como "ok, vai acordar de vez em quando com pesadelos". E já tinha acontecido um par de vezes ela chorar durante a noite, mas episódios curtos até voltar ao sono (ou, pelo menos, sem termos de acender a luz).
Sábado ficou cá um amiguinho a dormir, e passado uma hora de terem ferrado no sono ouvimos um berreiro no quarto dela. Ironia das ironias, estávamos nesse momento os dois no computador e eu tinha pedido à Maria para me mostrar no Facebook o famoso "Grupo das Mães", para me rir um pouco com o que por lá se pergunta (acho muito útil a troca de experiências, mas o detalhe e grau de exposição de algumas é qualquer coisa).
Para não acordar o Tomás, pegámos na Luisinha ao colo para a acalmar no nosso quarto, e foi aí que ficámos preocupados: ela só berrava "não" e "não quero", sempre a chorar, tentava afastar-nos, batia-nos quando nos aproximávamos, com os olhos abertos, como se estivesse a ver em nós os monstros do seu pesadelo; a imagem, sem querer chocar, era a de estar "possuída" e a sensação de ela não nos estar a reconhecer era desesperante. Quase tememos que rodasse a cabeça como a menina do filme! Lembrei-me então de a minha Mãe me contar um episódio em que estava à conversa com amigas, à noite, uma delas adormecer primeiro e de repente começar a falar com as outras, continuando, no entanto, a dormir; ou seja, eu sabia que era possível uma pessoa estar de olhos abertos e a falar (ou berrar), mas na verdade estar a dormir, e com isso tentei acalmar a Maria. Será que os terrores nocturnos são isto?, pensámos.
E era. Num momento de acalmia, vim confirmar o diagnóstico com o meu amigo Google, e curiosamente fui parar a um artigo do Mário Cordeiro no site da Pais & Filhos, que dizia:
No terror nocturno, a criança grita – muitas vezes um autêntico grito de terror, mas ao contrário do pesadelo, em que o próprio está assustado, quem fica mais receoso, neste caso, são os pais -, senta-se, está agitada, parece estar a lutar contra monstros ou «possuída», às vezes quase alucinada. Mas não está acordada, como nos pesadelos.
Quando os pais se aproximam, a criança parece não perceber quem eles são e até os afasta, com comportamentos que parecem ilógicos. «Então nós estamos lá e ela parece que não nos quer!» - Quantas vezes já ouvi isso. O que acontece, no terror nocturno, é uma mudança do ciclo de sono, com um estádio que nem é de dormir nem é de acordar, uma zona cinzenta que não dá para perceber a realidade como é, mas que a inclui no sonho – e os pais podem parecer os hipotéticos monstros que a perseguiam. Tentar acalmar não resulta, para desespero dos pais – mas nunca se esqueçam que, por paradoxal que pareça, aquela figurinha a mexer-se, a gritar e a espernear, não está a sentir medo. Repito: um terror nocturno não é um pesadelo. Muitas vezes não fazer nada é a melhor solução e a criança volta a deitar-se e a dormir.
Li também que era mais frequente em momentos de maior cansaço (tinha passado o dia a brincar, sem dormir sesta) e de maior stress emocional, como o nascimento de um irmão. Bingo!
Entretanto, a Luisinha tinha acordado - isto é, de repente "viu a luz" e começou a responder normalmente à Maria, mas confusa e assustada. Não queria por nada voltar a dormir, embora estivesse podre de sono. Quando finalmente conseguimos que adormecesse, passou o resto da noite com uma respiração soluçante. Por isso recomendam que, nestes casos, em vez de os tentarmos acordar, os deixemos chorar à vontade, sem intervir muito, porque voltam a ferrar no sono por si - o sono de onde, na verdade, nunca saíram. Desta vez não era uma hipótese para nós, mas da próxima já sabemos como agir!